sexta-feira, 25 de abril de 2008

25 de Abril sempre

E viva a Liberdade!
E aqueles que me ensinaram a amá-la.
Obrigada.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Lisboa/Paris/Aldeia da Gosma

Boa noite! São 2 da manhã aqui nas Franças e eu estou completamente de rastos. Mas a razão disto é tão boa que não resisto a partilhá-la "tout de suite"! Acabei de chegar de Paris e de Lisboa. Exactamente, parece impossível chegar de dois sítios ao mesmo tempo mas é esta a sensação. Talvez por estar bêbeda de sono, mas a verdade é que os dois últimos dias em Paris, entre Lisboa e Saint-Etienne foram uma transição tão rápida que sinto que acabou tudo de acontecer: ponte 25 de abril e torre eiffel, le marais e o bairro alto, tejo e sena, matilde e mathilde, neste momento de puro cansaço ainda sinto tudo muito recente e misturado. E que mistura de luxo! Que confusão de "bonne chance"! Lisboa e Paris... Ainda que a minha alma alfacinha se sobreponha a tudo, não consigo deixar de me lembrar do Marco Paulo e dos seus dois amores. É verdade, há uma loja em Saint-Et chamada "J'ai deux amoures"! Isto anda tudo ligado! Ok, é melhor parar antes que comece a fazer outro post-homenagem às músicas do Sérgio Godinho. Por falar em Sérginho, já pus a Simona, minha boa amiga italiana, a ouvir Sérgio Godinho e ela está maluca! Agora pede-me para ouvir a toda a hora e eu claro que não me importo.
Bem, que texto enlouquecido! Mas depois do anterior tão sóbrio e poético o melhor é desdramatizar o blog escrevendo muitas parvoíces e disparates... ou não, já chega!

Foi muito bom regressar a Portugal e às minhas gentes principalmente. Apesar da casa mais parecer um hospital por estar tudo doente, nunca me pareceu tão confortável e acolhedora como nestes dias. Foi magnífico comer sem ir a correr lavar a loiça a seguir e não ter de conviver com esta alcatifa nojenta do meu quarto em Saint-Et.
O Pai e a Mãe doentinhos mas muito muito queridos e amorosos e saudosos.
O João cagalhão com os seus arrotos, gazes e grunhidos descontrolados.
Mana em visita de médico muito valiosa.
Sobrinha mais pequenina GRANDE, até já sabe refilar.
Mariana ENORME (nos limites do possível, à escala Pinhão)
O Funchalinho igual, perfeito, o meu oásis de amor, intocado e à minha espera.
Os primos das Trinas, família como eu não conheço outra. Até à chuva nos divertimos.
E por aí fora...
De seguida: Paris! Longo dia de viagem entre aviões e tgv's, mais parecia que ia para o Vietname! Mas valeu a pena, fui muito bem recebida e passei dois dias fantásticos que se podem resumir num slogan: "Mat et Nath à Paris - exposition / magasin / expo / magasin / expo / magasin". Belas exposições e belas compras não é verdade, Nath? E não é verdade também que sou a rapariga mas controlada que conheces?? Que não entrei em nenhuma loja de sapatos e consegui quase sempre desviar o olhar??? É que há por aí um boato de eu sou uma grande consumista mas o teu testemunho vai mudar isso.
Conheci também vários amigos do Nathaniel muito simpáticos (Merci Dimitri!) e passei com eles uma noite muito divertida. Jogar Trivial Pursuit francês é que já foi o excesso da aventura... o esticanço e a risada!
Ok, veredicto final: Os franceses são realmente simpáticos e isto estende-se aos parisienses! Simpáticos, bem-educados, hospitaleiros e não cheiram mal! Desfaçam-se dos preconceitos e aceitem. "Allez les franciúús!" Só tenho a criticar alguma falta de higiene e cuidado com o espaço público. Claro que este "alguma falta de cuidado" em Saint-Et transforma-se em "IMENSA E INCOMPREENSÍVEL conduta de nojo absoluto entre chichi, cagalhões e o mais comum: escarretas, há ilhéus de gosma indescritiveis por todo o lado... Mas apesar disso, também foi bom voltar à província industrial, perceber que também aqui já tenho pessoas que me fazem falta e deixam saudades. Também é bom estar neste momento a escrever na MINHA caminha, de volta a este quarto e esta casa que em tão pouco tempo se tornaram meus. Tirando quando alguém deixa uma brisa a suor intenso e ácido a pairar na casa. Nesse momento, esqueço-me de tudo. Até daquela parte do "amai-vos uns aos outros"...

terça-feira, 8 de abril de 2008

3ª feira, feira da ladra

Já não é a primeira 3ª feira desde que aqui cheguei que acordo a sonhar com a feira da ladra. Ponho a Valsa da Ana a tocar e penso na Lisboa profunda, nas pessoas que conheci nessa feira, os vendedores que todas as semanas "partem para a guerra com os olhos na paz". Foi numa dessas manhãs em que acordei às cinco da madrugada para vender as minhas roupas fora-de-moda que conheci o lado mais profundo da minha cidade, "trapos e cacos e contradições" escondidos pelas ruas de Alfama e da Mouraria. Depois lembro-me da "Caixa" e começo a megulhar numa epifania de miséria lisboeta que esteve sempre ali ao meu lado enquanto eu crescia nas relvinhas solarengas do jardim da Gulbenkian, do jardim da avó e do Príncipe Real. Entre as histórias mais tristes que me foram contadas na primeira pessoa, encontra-se a história de uma dessas senhoras, mulheres desdentadas de carrapito na cabeça e mamas descaídas até ao umbigo. Primeiro não gostou que montássemos o nosso estaminé ali ao pé dela, passou as primeiras horas da manhã a balbuciar "caralhadas" para dentro e para fora, enquanto o outro senhor ao nosso lado a provocava e dizia que ela tinha era falta disto e daquilo, "velha ordinária", "querias querias", "cala-te seu porco, se não fosses um ordinário tão grande a tua mulher ainda te aturava", "coitado do teu filho", e por aí fora. A Maria e eu estávamos no meio, ora a rir, ora à espera do momento em que a nossa banquinha se iria transformar no campo de batalha. Mas a batalha foi sempre de palavras. Nas últimas horas da manhã a mulher já falava comigo, conversávamos sem grandes confianças de coisas banais até que ela me mostra as fotografias que traz consigo numa espécie de livro-moldura de bolso. A primeira fotografia era uma mulher lindíssima a rir com cerca de 20 anos, anos 50. Era ela, acabada de chegar a Lisboa para trabalhar, pouco tempo antes de se casar. Quando digo que era lindíssima não estou a exagerar e era realmente a mesma pessoa. Depois o marido e depois os dois filhos. Os dois já mortos. O primeiro morreu com 20 anos, o segundo ja mais velho ainda lhe deixou um neto. "A droga, sabes... ninguém sabe. niguém sabe o que é uma mãe... (silêncio de olhos fixos em lugar nenhum) é uma desgraça, tu não te metas nisso. Era um menino tão lindo," mostra a fotografia do mais novo ainda criança loirinha de olhos azuis feito rapaz ao colo da mãe, "ai o meu menino". Tudo isto sussurrado, baixinho, sem barulho.
Sentimo-nos umas grandes negociantes nessa manhã, despachámos praticamente tudo o que trazíamos e voltámos para casa com 80€ no bolso cada uma. Mas o que eu trouxe comigo para sempre desse dia foi perceber o que quer dizer "vender mágoas ao desbarato". E desde que aqui estou em Saint-Etienne, não há terça-feira que não me lembre desta manhã e desta música. E sempre porque "é terça-feira e das cinzas talvez, amanhã que é quarta-feira haja fogo outra vez"...

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Reinventar Saint-Etienne

Antes de mais, peço desculpa pela ausência de fotografias, não sei porquê mas não consigo fazer download para o blog. Ainda por cima queria tanta dar-vos a conhecer o túmulo da grande senhora Dalida... Pois é, a primeira coisa que a Catarina e eu fizemos em Paris foi dirigir-nos ao Cimitiére de Montmartre e visitar o túmulo desse grande ícone. Ok, a verdade é que primeiro passámos pelo Sacré Coeur mas foi mesmo a segunda coisa que fizemos e o Sacré Coeur só veio primeiro porque ficava a caminho. Já que não posso mostrar-vos a fotografia que tirámos junto da tumba da diva, deixo-vos um link para que se deixem inspirar pela nossa grande musa: http://www.youtube.com/watch?v=uPH7M8c3zbc
E para um momento mais divertido: http://www.youtube.com/watch?v=1WjTSaFwm_E
Agora digam lá quem é amiga, quem é...
Mas já lá vai algum tempo desde Paris, isto passa tudo muito depressa. Sinto que de repente, já cá estou há mais de um mês. Este fim de semana recebi a minha visita mais esperada, estive três dias a respirar e Saint-Etienne renasceu, agora é uma cidade muito mais bonita e luminosa. Mais do que nunca, passou a correr. O tempo escorrega-me entre os dedos e não há nada que possa fazer para travar o ritmo alucinante a que as coisas acontecem, mesmo os momentos mais solitários e melancólicos. E se por um lado é assustador, por outro lado é reconfortante pensar que isso faz com que nunca falte assim tanto tempo para voltar. Tenho muitas saudades e hoje vai ser sem dúvida um dia melancólico mas mais feliz.
E daqui a menos de uma semana volto à cidade mais linda do mundo, vou fazer anos e apanhar sol... que saudades.