sábado, 6 de setembro de 2008

terça-feira, 2 de setembro de 2008

To my little family









A long time ago I wrote my last post on this blog. By then this was a blog for my family and friends in Portugal, so they could keep up with the news from Saint-Etienne. Everytime I wrote something here it was like I was going through an experience that would never end, or at least it seemed to me to be a looong experience: I couldn't believe I was there and at the same time I couldn't believe I would ever come back... Everything was quite unreal and the only people that know what I'm talking about are the ones who were there with me. Today's post is for them... to my little family: to Ania with whoom I learned that is possible to keep searching for sweetness in every little thing, to Benek, our only boy that teached me that distances are made in our minds, to Zosia that cried in our last night making the separation even more dificult and who is so similar to me in so many little things although in such a different way, to Silvia, our big mamma Silvia with her Shakira hips, the only woman I met able to turn on a totaly gay man and also the only "gentlelady" I ever heard saying "Did you hear miiiiaauuu?? There's a cow here!", para a Sónia, compatriota querida que me apareceu no primeiro dia quando eu ainda estava toda contente e orgulhosa de ter ido sozinha e que depois me soube tão bem ter por perto, quando desabafar em português foi um luxo em momentos que fizeram de nós duas amigas tão cúmplices, and to Simona, my simosimo that shared much more than a stinky apartment with me, we shared a life there. For 4 monthes I had a sister making me coffee in the morning, risotto in the afternoon and laughing out like crazy all day long for things like "une histoire d'ongles c'est un affaire des mains". I'm already laughing here alone!
I miss all of you like a part of me has been taken away and I can't wait to see you again. Sometimes I think "If we could have just one more diner all toghether...!".
Well, from now on I'll keep this blog working I don't exactly what for, sometimes in english, some others in portuguese, just keep in touch and we'll see what happens.

domingo, 8 de junho de 2008

presque fini...






No outro dia o meu amigo Guilherme dizia-me: "mas que grande reviravolta que isso levou"... e é mesmo isso que eu sinto agora que está quase a acabar esta minha estadia. Ainda no outro dia estava a chegar à cidade-fantasma num domingo provinciano que me deixou tão deprimida e a sentir-me tão sozinha, quase estúpida por ter vindo. Os primeiros tempos foram mesmo difíceis, sinto que foi uma luta para pôr as coisas a andar. Mas agora está tudo a andar tão bem que me começa a custar muito abandonar tudo o que conquistei aqui. De certa forma, conquistei uma vida nova, amigos novos, escola nova... Matilde nova, não tenho dúvidas. Foi curto e rápido mas intenso. Ainda está a ser, cada vez mais intenso porque conforme o fim se aproxima maior é a sofreguidão de aproveitar tudo e deixar o mínimo possível para trás. Mas o meu sol de Lisboa há-de estar sempre a chamar por mim e nem me imagino a regressar para nenhum outro sítio do mundo. Se tivesse de ficar em Saint-Etienne por tempo indeterminado tenho a certeza que não estaria tão melancólica como estou agora, mas a verdade é que falta menos de 1 mês e depois acabaram-se os jantares húngaros, polacos, italianos, portugueses... as coreografias em honra da Dalida, as festas em casa dos franceses loucos, a faculdade-sem-aulas, o meu quarto, epor aí fora... Bem, isto tudo para dizer que neste momento me sinto a pessoa com mais sorte do mundo. Todas as minhas melancolias - as de ir, as de ficar, as de voltar - devem-se apenas às coisas fantásticas que tenho de um lado e de outro, ao luxo que é poder passar por esta experiência e guardá-la comigo para sempre. Já valeu tudo a pena. E se há coisas que não quero perder, a mais evidente está nestas fotografias. Vivam as minhas miúdas! Fazem muito barulho mas não sei como é que vou conseguir passar dias inteiros sem berraria italiana de manhã à noite...

terça-feira, 3 de junho de 2008

Ciao Davide! VEDILO IN SICILIA!






A primeira despedida... o Davide, namorado da minha querida Simona parte hoje de regresso a casa depois de uma breve visita. Já cá tinha estado antes durante 15 dias e rapidamente passou a fazer parte desta nossa pequenina comunidade. Belas jantaradas, boas conversas e histórias de uma avó sicliana que mais parecem tiradas de um filme, de rir e chorar por mais. Nas fotografias não se encontra propriamente favorecido mas o photobooth é o melhor amigo de qualquer designer! Arrivederci!

The first goodbye... Davide, the boyfriend of my dearest Simona, leaves today after a short visit. He had been here before for 15 days and quickly became a part of our small community. Great food, good conversations and stories of a sicilian grandmother that I'll never forget, like taken from a movie. In the pictures he's not so sexy but anyway... the photobooth is the best friend of any designer! See you soon Davide, arrivederci!

sexta-feira, 30 de maio de 2008

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Il y a 2 mois...



E lembram-se dos telhados com neve, lembram-se lembram-se??? Pois aqui estão eles, vistos da janela cá de casa! Felizmente agora já faz Sol...

Rue de l'Eternité



Este sistema é muito esquisito mas enfim... carreguem neste rectângulo esquisito para ficarem a conhecer a placa aqui da rua do cemitério onde eu vivo.

IMAGENS!!!!!



Isto é estranhíssimo mas a única maneira que consegui arranjar de vos fazer chegar imagens é através deste rectângulo rídiculo aqui em cima. Funciona como link para a imagem. Ora carreguem então e fiquem a conhecer algumas imagens de alguns jantares internacionais aqui em casa... (resto do texto censurado por "Mãe" que não consegue dormir bem a pensar que eu digo mal de pessoas na internet)

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Design de Comunicação

Este será o post mais longo até aqui. A razão disto é que resolvi publicar a conclusão do meu primeiro trabalho aqui em Saint Etienne. O trabalho não posso mostrar porque, para além de não estar pronto, consiste num pequeno livro em que fiz uma selecção de textos que exponham a problemática do design como comunicação. O resto da explicação está toda no texto da conclusão. Ainda há uns acertos por fazer mas esta é a primeira versão.
Mostro-o aqui, em primeiro lugar para provar que tenho estado a trabalhar (já que ninguém acredita), e em segundo porque fala de algumas questões importantes para mim e porque descreve uma parte importante desta experiência Erasmus até aqui.
Ah, e falta dizer que é suposto ter sido escrito no dia 25 de Abril.
Voilá...

Quando há quatro anos atrás decidi estudar “Design de Comunicação”, partia “para a guerra com os olhos na paz” *. Estava longe de saber do que é tratava esta área, o que era o design, qual a sua posição no mundo da arte, qual exactamente o seu propósito. No entanto, o facto de este curso se chamar “Design de Comunicação” e de apresentar um vasto leque de disciplinas no plano curricular, fez-me perceber a sua transversalidade. Fez-me pensar que talvez fosse uma boa escolha naquele momento em que eu não sabia bem o que queria. Não parecia tão específico como outros cursos, não era apenas “design gráfico”.
A partir daí, a aprendizagem que se seguiu foi transformadora da minha perspectiva sobre todas as coisas: sobre a arte, as imagens, o espaço, a informação, as pessoas e finalmente, sobre o design.
Comecei a perceber que o trabalho a que me propunha exigia a consideração de vários factores exteriores, talvez todos. Tudo conta. Não nos podemos distrair desse exterior para produzirmos uma comunicação eficaz. O termo “gráfico” tornou-se efectivamente redutor pois os projectos podem assumir formas para além da visual no seu sentido mais estético e imagético. Começamos então a perceber que o mais importante não é a forma final mas sim o raciocínio que nos conduz a uma solução. O processo, o pensamento, a estruturação, a identificação do problema e a sua resposta. É esse processo que tratamos por Design.
Quando cheguei à “École d’Art et Design de Saint-Etienne” para fazer Erasmus, fui integrada no departamento de “Comunicação”. O departamento de “Design” desta escola ocupa-se apenas do design industrial, de produto. Quando pela primeira vez, confrontei alunos e professores com esta questão, todos me responderam mais ou menos o mesmo, de forma muito natural, dizendo que em França, a comunicação e o grafismo não são considerados design. Para explicarem isto disseram que o design está ligado à criação de objectos... mas e então, onde é que começa e acaba a definição de “objecto”? Nesse momento, e porque um dos exercícios do semestre deveria consistir numa paginação de textos e imagens, lembrei-me de vários textos que me foram sendo dados a ler por alguns professores de Lisboa ao longo do meu percurso até aqui. Apesar de não considerar ultrajante a perspectiva francesa para a minha área de formação, senti-me de imediato tentada a confrontar as duas realidades, “defendendo” a minha, e vendo assim, até que ponto, se pode negar que a comunicação e o grafismo atravessam uma metodologia processual chamada Design. A noção de metodologia processual é uma das primeiras que nos é incutida na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Só depois disto, o trabalho se transforma em objecto. Objecto no mais autêntico sentido da palavra. Objecto ponderado, projectado, concretizado e testado no contacto, no exterior, na comunicação. Comunica? Então podemos falar de objecto, de utilidade, de rigor, de design. Na nossa área muitas vezes não se produzem objectos com a materialidade de um utensílio de cozinha ou de uma esferográfica, produzem-se antes objectos de informação, de chamada de atenção, produzem-se opiniões, emoções, objectos que têm uma voz muito mais forte do que quaisquer outros.
Enfrentar uma metodologia processual de design é assumir um compromisso de rigor, assumir uma responsabilidade que ultrapassa o simples estudo das formas. É esse sentido racional, crítico, acertivo e acima de tudo social, que nos afasta inevitavelmente do mundo das artes plásticas. É delas que partimos mas acabámos por ser o Lutero desta história e criámos qualquer coisa que está muito afastada do ponto de partida na sua razão de existir.
Por ser uma actividade recente, o design carece ainda bastante de bases teóricas e definições consensuais. Os primeiros anos em que estudamos Design de Comunicação são assombrados pela pergunta que vem sempre do exterior: o que é isso, design de comunicação? A verdade é que muitas vezes na explicação acabamos por nos resignar à dimensão gráfica por ser mais fácil de fazer entender, mas não é tão simples assim.
Os textos e excertos de textos que recolhi para esta pequena antologia são momentos fundamentais da minha formação. Alguns deles abordam questões mais específicas como a formação do designer, até onde vai a importância do meio académico em comparação à da experiência profissional? (Experience Vs Education) Outros, como é o caso de Gui Bonsiepe sobre a questão do Interface, concretizam ideias fundamentais e primordiais na definição do que é o design e da sua incontornável relação directa com a comunicação.
Foi muito importante contactar com esta perspectiva tão diferente da minha e perceber que também ela é possível, ainda que difícil para mim de integrar. Perceber assim, que já é tarde de mais para mudar os meus olhos porque, como disse Sebastião Rodrigues “ser culto é ser de um sítio”, e esta é a minha cultura, estes são os meus textos e as minhas imagens. Hoje, no meu país e do Sebastião Rodrigues celebra-se a liberdade. Liberdade conquistada há apenas 34 anos atrás. Liberdade recente que marca o fim de uma ditadura longa e perigosamente silenciosa, falsamente pacífica. A esta história de liberdade está associada a história da nossa liberdade de expressão. 25 de Abril de 1974 foi o dia em que todos os gritos se soltaram, e com eles as palavras, as opiniões, as músicas, as imagens. Podemos dizer que a história do design português é ainda mais recente do que a história do restante design ocidental. Rapidamente fomos buscar as referências já passadas, entrámos quase directamente no pós-modernismo, sem uma cultura pop e revolucionária introdutória. Não tivemos hippies nem manifestações contra a guerra do Vietname, não queimámos soutiens nem passámos pelo Maio de 68, mas há uma coisa que marcará para sempre aquilo que eu faço e a forma como vejo o design e a criação: estes termos serão sempre sinónimos de liberdade. E acredito que é aí, na liberdade de expressão, que devemos reconhecer o berço de todas as formas de criatividade e de comunicação.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

L'eté c'est arrivé!

Parece que ainda ontem estava a nevar e de repente a província industrial foi invadida por um calor inacreditável. Estamos mesmo a ver conseguimos dar cabo da meia-estação com o aquecimento global. A meia-estação, o melhor do ano! Aquelas semaninhas em que tudo parece perfeito, em que a mudança de tempo suavemente nos traz esperanças de que mais qualquer coisa pode mudar para melhor. Se o ser-humano é influenciado pelo tempo, não tarda muito para andarmos todos esquizofrénicos com flutuações de humor. Ou então vamos aprender a adaptar os nossos humores ao clima tropical que se avizinha... também há desde sempre pessoas a viverem no Equador e em florestas tropicais. Bem, esperemos que não seja necessário e que os meus filhos ainda conheçam a Primavera e o Outono como aprendemos na escola.

Para os preocupados, ficam alguns links:
https://community.hsus.org/humane/notice-description.tcl?newsletter_id=23437595

http://www.avaaz.org/en/report_back_1/

http://www.dothegreenthing.com/

http://www.wwf.org./


Já chega, até porque não acredito que vejam estes todos (no mesmo dia, claro...)

Agora para animar, passo a apresentar-vos, com algum atraso, o melhor presente de anos da melhor amiga. Deixou-me tão feliz e orgulhosa que não posso deixar de partilhar! Com a Dalida sempre presente, bien sûr...

http://www.youtube.com/watch?v=rsSDIcDd2es

sexta-feira, 25 de abril de 2008

25 de Abril sempre

E viva a Liberdade!
E aqueles que me ensinaram a amá-la.
Obrigada.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Lisboa/Paris/Aldeia da Gosma

Boa noite! São 2 da manhã aqui nas Franças e eu estou completamente de rastos. Mas a razão disto é tão boa que não resisto a partilhá-la "tout de suite"! Acabei de chegar de Paris e de Lisboa. Exactamente, parece impossível chegar de dois sítios ao mesmo tempo mas é esta a sensação. Talvez por estar bêbeda de sono, mas a verdade é que os dois últimos dias em Paris, entre Lisboa e Saint-Etienne foram uma transição tão rápida que sinto que acabou tudo de acontecer: ponte 25 de abril e torre eiffel, le marais e o bairro alto, tejo e sena, matilde e mathilde, neste momento de puro cansaço ainda sinto tudo muito recente e misturado. E que mistura de luxo! Que confusão de "bonne chance"! Lisboa e Paris... Ainda que a minha alma alfacinha se sobreponha a tudo, não consigo deixar de me lembrar do Marco Paulo e dos seus dois amores. É verdade, há uma loja em Saint-Et chamada "J'ai deux amoures"! Isto anda tudo ligado! Ok, é melhor parar antes que comece a fazer outro post-homenagem às músicas do Sérgio Godinho. Por falar em Sérginho, já pus a Simona, minha boa amiga italiana, a ouvir Sérgio Godinho e ela está maluca! Agora pede-me para ouvir a toda a hora e eu claro que não me importo.
Bem, que texto enlouquecido! Mas depois do anterior tão sóbrio e poético o melhor é desdramatizar o blog escrevendo muitas parvoíces e disparates... ou não, já chega!

Foi muito bom regressar a Portugal e às minhas gentes principalmente. Apesar da casa mais parecer um hospital por estar tudo doente, nunca me pareceu tão confortável e acolhedora como nestes dias. Foi magnífico comer sem ir a correr lavar a loiça a seguir e não ter de conviver com esta alcatifa nojenta do meu quarto em Saint-Et.
O Pai e a Mãe doentinhos mas muito muito queridos e amorosos e saudosos.
O João cagalhão com os seus arrotos, gazes e grunhidos descontrolados.
Mana em visita de médico muito valiosa.
Sobrinha mais pequenina GRANDE, até já sabe refilar.
Mariana ENORME (nos limites do possível, à escala Pinhão)
O Funchalinho igual, perfeito, o meu oásis de amor, intocado e à minha espera.
Os primos das Trinas, família como eu não conheço outra. Até à chuva nos divertimos.
E por aí fora...
De seguida: Paris! Longo dia de viagem entre aviões e tgv's, mais parecia que ia para o Vietname! Mas valeu a pena, fui muito bem recebida e passei dois dias fantásticos que se podem resumir num slogan: "Mat et Nath à Paris - exposition / magasin / expo / magasin / expo / magasin". Belas exposições e belas compras não é verdade, Nath? E não é verdade também que sou a rapariga mas controlada que conheces?? Que não entrei em nenhuma loja de sapatos e consegui quase sempre desviar o olhar??? É que há por aí um boato de eu sou uma grande consumista mas o teu testemunho vai mudar isso.
Conheci também vários amigos do Nathaniel muito simpáticos (Merci Dimitri!) e passei com eles uma noite muito divertida. Jogar Trivial Pursuit francês é que já foi o excesso da aventura... o esticanço e a risada!
Ok, veredicto final: Os franceses são realmente simpáticos e isto estende-se aos parisienses! Simpáticos, bem-educados, hospitaleiros e não cheiram mal! Desfaçam-se dos preconceitos e aceitem. "Allez les franciúús!" Só tenho a criticar alguma falta de higiene e cuidado com o espaço público. Claro que este "alguma falta de cuidado" em Saint-Et transforma-se em "IMENSA E INCOMPREENSÍVEL conduta de nojo absoluto entre chichi, cagalhões e o mais comum: escarretas, há ilhéus de gosma indescritiveis por todo o lado... Mas apesar disso, também foi bom voltar à província industrial, perceber que também aqui já tenho pessoas que me fazem falta e deixam saudades. Também é bom estar neste momento a escrever na MINHA caminha, de volta a este quarto e esta casa que em tão pouco tempo se tornaram meus. Tirando quando alguém deixa uma brisa a suor intenso e ácido a pairar na casa. Nesse momento, esqueço-me de tudo. Até daquela parte do "amai-vos uns aos outros"...

terça-feira, 8 de abril de 2008

3ª feira, feira da ladra

Já não é a primeira 3ª feira desde que aqui cheguei que acordo a sonhar com a feira da ladra. Ponho a Valsa da Ana a tocar e penso na Lisboa profunda, nas pessoas que conheci nessa feira, os vendedores que todas as semanas "partem para a guerra com os olhos na paz". Foi numa dessas manhãs em que acordei às cinco da madrugada para vender as minhas roupas fora-de-moda que conheci o lado mais profundo da minha cidade, "trapos e cacos e contradições" escondidos pelas ruas de Alfama e da Mouraria. Depois lembro-me da "Caixa" e começo a megulhar numa epifania de miséria lisboeta que esteve sempre ali ao meu lado enquanto eu crescia nas relvinhas solarengas do jardim da Gulbenkian, do jardim da avó e do Príncipe Real. Entre as histórias mais tristes que me foram contadas na primeira pessoa, encontra-se a história de uma dessas senhoras, mulheres desdentadas de carrapito na cabeça e mamas descaídas até ao umbigo. Primeiro não gostou que montássemos o nosso estaminé ali ao pé dela, passou as primeiras horas da manhã a balbuciar "caralhadas" para dentro e para fora, enquanto o outro senhor ao nosso lado a provocava e dizia que ela tinha era falta disto e daquilo, "velha ordinária", "querias querias", "cala-te seu porco, se não fosses um ordinário tão grande a tua mulher ainda te aturava", "coitado do teu filho", e por aí fora. A Maria e eu estávamos no meio, ora a rir, ora à espera do momento em que a nossa banquinha se iria transformar no campo de batalha. Mas a batalha foi sempre de palavras. Nas últimas horas da manhã a mulher já falava comigo, conversávamos sem grandes confianças de coisas banais até que ela me mostra as fotografias que traz consigo numa espécie de livro-moldura de bolso. A primeira fotografia era uma mulher lindíssima a rir com cerca de 20 anos, anos 50. Era ela, acabada de chegar a Lisboa para trabalhar, pouco tempo antes de se casar. Quando digo que era lindíssima não estou a exagerar e era realmente a mesma pessoa. Depois o marido e depois os dois filhos. Os dois já mortos. O primeiro morreu com 20 anos, o segundo ja mais velho ainda lhe deixou um neto. "A droga, sabes... ninguém sabe. niguém sabe o que é uma mãe... (silêncio de olhos fixos em lugar nenhum) é uma desgraça, tu não te metas nisso. Era um menino tão lindo," mostra a fotografia do mais novo ainda criança loirinha de olhos azuis feito rapaz ao colo da mãe, "ai o meu menino". Tudo isto sussurrado, baixinho, sem barulho.
Sentimo-nos umas grandes negociantes nessa manhã, despachámos praticamente tudo o que trazíamos e voltámos para casa com 80€ no bolso cada uma. Mas o que eu trouxe comigo para sempre desse dia foi perceber o que quer dizer "vender mágoas ao desbarato". E desde que aqui estou em Saint-Etienne, não há terça-feira que não me lembre desta manhã e desta música. E sempre porque "é terça-feira e das cinzas talvez, amanhã que é quarta-feira haja fogo outra vez"...

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Reinventar Saint-Etienne

Antes de mais, peço desculpa pela ausência de fotografias, não sei porquê mas não consigo fazer download para o blog. Ainda por cima queria tanta dar-vos a conhecer o túmulo da grande senhora Dalida... Pois é, a primeira coisa que a Catarina e eu fizemos em Paris foi dirigir-nos ao Cimitiére de Montmartre e visitar o túmulo desse grande ícone. Ok, a verdade é que primeiro passámos pelo Sacré Coeur mas foi mesmo a segunda coisa que fizemos e o Sacré Coeur só veio primeiro porque ficava a caminho. Já que não posso mostrar-vos a fotografia que tirámos junto da tumba da diva, deixo-vos um link para que se deixem inspirar pela nossa grande musa: http://www.youtube.com/watch?v=uPH7M8c3zbc
E para um momento mais divertido: http://www.youtube.com/watch?v=1WjTSaFwm_E
Agora digam lá quem é amiga, quem é...
Mas já lá vai algum tempo desde Paris, isto passa tudo muito depressa. Sinto que de repente, já cá estou há mais de um mês. Este fim de semana recebi a minha visita mais esperada, estive três dias a respirar e Saint-Etienne renasceu, agora é uma cidade muito mais bonita e luminosa. Mais do que nunca, passou a correr. O tempo escorrega-me entre os dedos e não há nada que possa fazer para travar o ritmo alucinante a que as coisas acontecem, mesmo os momentos mais solitários e melancólicos. E se por um lado é assustador, por outro lado é reconfortante pensar que isso faz com que nunca falte assim tanto tempo para voltar. Tenho muitas saudades e hoje vai ser sem dúvida um dia melancólico mas mais feliz.
E daqui a menos de uma semana volto à cidade mais linda do mundo, vou fazer anos e apanhar sol... que saudades.

quinta-feira, 20 de março de 2008

PARIS!!!!!!!!!!!!

Pois é, a seguir a um post intitulado "Acabou-se o Turismo", nada como outro com o título "PARIS!!!!!!!!!!!!".
Ora bem, parto amanhã às 10 da manhã num Sr. TGV com ligação directa a Paris, Gare de Lyon, onde chego ao meio-dia para abraçar a minha amiga do coração, a minha Catchua TCHUA! Vai ser mesmo romântico o nosso encontro a meio caminho Maastricht-Saint-Etienne! E muito histérico concerteza, pobre Paris, nem imagina o que lhe está prestes a acontecer... AGORA é que vai ser a cidade mais bonita do Mundo! Até já comprei um livro para a viagem: "Mai 68 expliqué à Nicolas Sarkozy". A senhora da caixa da Fnac riu-se muito quando leu o título e depois disse uma piada em francês que eu não percebi mas ri-me também porque ela tinha ar de louca. Prometo fotografias no blogue à chegada. Linda Páscoa... e o Jesus ressuscitou.
Se não, ressuscitava agora.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Acabou-se o turismo...

Pois é, tive hoje a reuniao em que escolhi as disciplinas que vou fazer por aqui portanto, ao que parece, vou ter de começar a trabalhar. Os professores daqui ficaram furiosos qundo eu lhes disse que nao precisava de créditos e avaliaçao deles porque terei sempre de fazer as disciplinas exigidas pela Faculdade de Lisboa. Com toda a razao sentiram que isso nao é propriamente aquilo que o programa Erasmus propoe e acho que se sentiram um bocado palhaços porque no fundo o trabalho deles é desvalorizado mas enfim, isto sao assuntos académicos muito enfadonhos e eu nao quero massacrar ninguem, isto nao é um confessionario das minhas irritaçoes, é um blogue para contar as coisas divertidas! Portanto, resumindo e concluindo, maos à obra que esta na hora de começar a trabalhar e de comer croissants, de ir a Paris, a Lyon, de receber visitas, pensar nas ferias da pascoa, começar a descoberta dos melhores bares de Saint Etienne, etc etc. Ai desculpem, de começar a trabalhar! Baralho-me sempre com esta questao...

quinta-feira, 6 de março de 2008

Chez Matilde

Pois é, ja nao sou desterrada! A grande noticia de hoje é que vou dividir apartamento com a Ana Maria e a Simona, as minhas queridas italianas! Estou euforica, valeu mesmo a pena esperar, consegui exactamente aquilo que queria com o acréscimo de ir viver com duas raparigas fantasticas que fazem PASTA ITALIANA! Yahoo! A casa é optima, tem imensa luz e uma vista desafogada sobre a cidade. O quarto é pequenino mas muito querido e tambem tem vista e uma janela ao nivel do chao pela qual estou apaixonada. No entanto, a sala é grande, a cozinha tambem e tenho maquina de lavar roupa! So nao tenho internet mas vamos pedir ao vizinho para partilhar a dele e talvez de. Peço desculpa pela falta de acentos nas palavras mas estes teclados franceses sao uma bosta, nao me consigo entender com isto!

À tout allors mes amis!

quarta-feira, 5 de março de 2008

Nomada e desterrada

Pois é, a Matilde comodista e preguiçosa agora tornou-se numa nómada sem casa nem terra. Já tinha feito alguma iniciação ao modo de vida nómada entre o Funchalinho e o Príncipe Real mas isto agora está num nível muito mais avançado. Depois de três noites num hotel que quase davam para pagar a renda de um mês de apartamento, mudei finalmente para um novo contexto menos impessoal que a vida de hotel: fui acolhida pela Marie-Anee, uma francesa muito simpática que me ofereceu estadia no sofá cama da sua casa temporariamente. Graças a Deus não é um daqueles sofás-cama com um buracão no meio e eu dormi muito bem esta noite. Na vida nómada aprende-se a dar valor às pequenas coisas. Pois bem, tem sido assim, desterrada e sem destino, que tenho tentado arranjar um sítio definitivo para me instalar. Nesta momento tenha duas hipóteses: uma delas é ficar num quarto num apartamento onde vivem duas italianas muito bem-dispostas: a Ana Maria e a Simona. Isto seria o ideal mas ainda é preciso saber se o proprietário quer alugar o terceiro quarto da casa. Se não resultar tenho uma segunda escolha que será uma residéncia universitária, ao que parece melhor do que a maioria, onde está também uma outra italiana bem-disposta chamada Silvia. Vivam as italianas!!! Agora vamos ver se consigo que isto se resolva o mais rapidamente possível para não abusar do sofá-cama da Marie-Anee. Pelo menos, já não ando tão perdida e sozinha como nos primeiros dias. Realmente é muito bom conhecer outras pessoas que estão na mesma situação do que nós (apesar de alojadas), começar a combinar jantares em que cada pessoa cozinha um prato típico do seu país (estou lixada!), começar a falar de interesses comuns, perceber que é mais ou menos a mesma coisa em todo o lado, que não há assim tantas diferenças, começar a falar o nosso novo dialecto entre erasmus: "franglais" ou "franglish", como preferirem... enfim, e por aí fora. Não há dúvida que os croissants e o chocolate também desempenham um papel importante na angústia de estar longe de casa, sem casa. Sim mãe, eu sei que não devia, colestrol, bla bla bla... hehe

Mas melhor notícia de hoje é que aneve não derreteu!!! Nevou a noite toda e quando acordei estava mesmo tudo branco: os telhados, os jardins, os carros... "Super"! E sim mãe, é um bocadinho escorregadio mas tenho conseguido manter-me em pé.

E já só faltam 30 dias para o Gustavo chegar... (chega chega chega chega chega vem vem vem)

terça-feira, 4 de março de 2008

Neve!

É verdade! Hoje de manha nevou em Saint-Etienne!!! Nevou imenso, foi preciso usar o chapéu de chuva e de vez em quando, os flocos entravam para os olhos como pò de gelo... Acho que foi para comemorar a noticia que recebi hoje do meu amor que ja esta quse a caminho para me visitar. Hoje alguns dos montes verdes estao completamente brancos, forrados por tapetes espessos de "neige". Espero que nao derreta ja...

segunda-feira, 3 de março de 2008

Os primeiros dias

Isto de estar longe de casa tem sido bem menos excitante do que se podia imaginar. Chegar à noite não ajuda e o dia seguinte ser um domingo de província, com tudo fechado e ninguém nas ruas ainda ajuda menos. Ok, foi díficil e ainda custa um bocadinho a passar o tempo mas já consigo escrever estas coisas sem desatar a chorar! Talvez não percebam o avanço que isto representa mas garanto que é enorme! Ainda não conheço bem a cidade mas não me parece deslumbrante, já vi coisas muito bonitas misturadas com coisas muito muito feias... parece-me urbanisticamente disfuncional. No entanto, estou num vale cercado por montes e serras muito verdes e isso é simpático. Bem, mas apesar de tudo não estou tão sozinha como gostaria porque ao contrário do que eu pensava, veio uma Sónia da Faculdade de Belas de Lisboa no mesmo dia, no mesmo voo e na mesma camioneta que eu. Que sorte hum?!? Tudo o que eu sempre quis! A ver se não me esqueço de nunca lhe falar neste blog... Estou a brincar, é muito querida e simpática, vai ser muito bom, tenho a certeza. Hoje o dia está a ser melhor, como é segunda-feira as pessoas saiem à rua, juro! Afinal, elas existem e saiem à rua! É certo que não são deslumbrantes mas pelo menos acabaram com a minha sensação de estar numa cidade fantasma onde, de vez em quando, aparecem uns mitras. Conheci hoje a faculdade, tive direito a uma grande apresentação com outros erasmus e o que me agradou mais foi perceber que o sistema de ensino deles contempla muito mais hipóteses extra-escolares que o nosso. Os alunos desenvolvem muito trabalho na escola para levarem a concursos exteriores, fazem estágios profissionais, têm imensas parceria com museus, universidades, etc. Nesse aspecto fiquei muito contente de saber que são muito menos fechados em si próprios do que a minha fantástica faculdade que é perita em ignorar a existência de um mundo exterior ao convento em ruínas. Também já estou a tratar de arranjar casa, amanhã devo abandonar o meu pequenino "Baladin", hotel em que passei várias horas chorosas de lamechice e saudades. Mas quando nos abstraímos um bocadinho dessa angústia é bom perceber que estamos a sofrer porque deixámos para trás coisas fantásticas, porque temos pilares que nos sustentam, pessoas deixam buracos que mais ninguém vai conseguir preencher. E tudo isso continua à nossa espera, continua a ser nosso a qualquer distância, e por isso é bom perceber que, de certa forma, a distância até torna o facto de não estarmos sozinhos numa evidência maior.
Já chega por hoje, já me estou a esticar! Prometo que os próximos não serão tão longos, não desistam já de acompanhar as minha belas aventuras!

Muitos beijinhos,

Matilde

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

AMANHA!!!

É já amanhã... Ainda não estou muito convencida mas é o que está escrito no bilhete por isso é melhor começar a acreditar e ir fazer a mala. E é bom que seja uma grande mala onde eu também vou levar a minha noite de ontem, os meus super-melhores-do-mundo-enormes amigos, o bairro alto, a bica, a alheira, o poster do meu primo mais primo, o meu coração de prata com os homens da minha vida para trazer ao peito (ou ao umbigo) e as saudades, muitas muitas saudades. Ontem ouvi milhares de vezes: "Quais saudades!!! Nem te vais lembrar! No máximo tens saudades do Gustavo, vais ver vais ver!". QUE ESTÚPIDOS!!! Importam-se de acreditar que eu vou ter saudades vossas?!!? É que vou MESMO! Já tenho!
Enfim, o primeiro post é para os amigos, obrigada a todos, fico à espera das visitas.